Diário de um pai bipolar

Nunca quis expor meu pai, nunca escrevi sobre as coisas que a gente já passou e a única forma de guardar todos esses sentimentos e os momentos ruins é na memória.

Porém hoje me sinto obrigada em mostrar tudo que ele faz, portanto vou fazer um diário de todas as vezes que ele tiver aqui em casa, pois ai não terá ninguém que poderá julgar minha mãe e eu.

Meu pai tem uma família muito ausente, porém eles só ficam de longe falando que a gente tem que fazer isso e aquilo, mais não se dão conta que eles precisam conviver com ele, precisam estar mais perto, precisam mostrar para o meu pai que eles apoiam ele, que vão estar lá em todos os momentos, pois mais que eles não morem na mesma cidade que a gente, creio que pelo menos no natal ou em festas no final do ano eles podem visitar.

Tenho 21 anos, sou filha única da parte da minha mãe, meu pai já esta nos seus 64 anos e minha mãe 56.

Meu pai tem dois filhos porém já estão adultos e não moram no mesmo estado que a gente.

Meu pai teve uma crise muito séria meses atrás, e a gente teve que ficar com ele em casa pois a clinica que ele costumava ir estava lotada, minha mãe chegou a internar ele em uma clinica que paga 350 reais a diária, pois a clínica não aceitavam o convênio dele, além disso não tinha tanta estrutura e era muito cara, parecia que ele estava mais em uma prisão do que em uma clínica.Então minha mãe resolveu procurar em alguma cidade do interior um hospital que cuidasse de pessoas com problemas parecidos com ele e então foi para o interior, contratou uma ambulância e levou ele p/ lá.

A cidade que moramos infelizmente é muito precária em termos de clinica. A clinica que ele fica internado é uma das melhores,porém geralmente ela está sempre cheia.

Antes do meu pai ser levado para esse hospital no interior, ele estava praticamente 2 meses em casa com crise, todos os dias transtornado, com xingamentos, um pouco agressivo, não dormia e estava fumando de mais, um desses dias chegou a dar um tapa na cara da minha mãe e então ai foi pior estado e minha mãe viu que não tinha como ficar com ele em casa, pois ele estava sofrendo e nós também.

Como o hospital ficava no interior do estado, ficava um pouco longe.Um médico que cuida do meu pai a muito anos aconselhou minha mãe de procurar uma casa de repouso que aceitasse pessoas assim.Minha mãe conseguiu deixar meu pai em uma casa de repouso, eu particurlarmente  achei melhor ele ficar em uma casa de repouso do que em uma clínica.Nunca gostei muito de clínica e eu sempre quando vou me sinto muito triste,se eu tivesse que viver em uma clínica dessas eu acho que ficaria mais depressiva.A casa de repouso parece realmente ser uma casa e eles sempre tem várias brincadeiras e é um ambiente mais "gostoso" de ficar.

É muito difícil conviver com uma pessoa bipolar. Hoje a Bipolaridade virou uma doença clichê, todo mundo fala que é bipolar e acha que é uma doença fácil de conviver, porém não é.

Muitos anos atrás meu pai tinha crise só uma vez por ano, e era ótimo porque o resto do ano todo ele ficava bem, só que hoje em dia parece que a doença foi piorando, pois a gente nunca sabe quando ele pode ou não explodir.

Meu pai é uma pessoa muito boa,muito tranquila quando está bem.É um dos homens mais inteligentes que já conheci em toda a minha vida, uma das pessoas mais bondosas, sempre que pode quer ajudar as pessoas.É super carinhoso, trata todo mundo bem.É um pouco tímido e um pouco calado, mais gosta muito de rir e se divertir.Se você chegar do lado dele e falar sobre qualquer assunto ele vai conseguir conversar com você da forma mais inteligente possível.

Tento sempre ao máximo guardar no meu coração o que ele tem de melhor, o que ele realmente é.

Vou sempre lutar pela melhoria dele, fico pensando no que eu posso fazer, o que a gente está errando, mais é difícil porque ele não se ajuda, não tem vontade de sair, não quer fazer uma atividade física, não quer fazer uma terapia e tudo tem que ser do jeito dele, se você discutir com ele, tentar obrigar ou até mesmo falar que isso é o melhor pra ele, ele começa uma crise outra vez.

Minha mãe já colocou vários enfermeiros aqui em casa para cuidar dele, dar toda atenção e suporte, levar ele para sair, para caminhar, ficar conversando com ele o tempo todo, porém no começo ele aceita, gosta da pessoa e depois com o passar do tempo, ele começa a brigar com ela também, começa a xingar e não aceita mais a companhia.

Acho que Bipolaridade é uma doença que todo mundo tem que tentar ajudar, principalmente o paciente, meu pai sabe que é, porém diz que não se lembra de nada que acontece quando está em crise e sinceramente eu nunca vi ele lutando mesmo para melhorar, sempre fala que vai fazer isso e aquilo quando está na clínica, mais quando volta para casa não faz nada para mudar e nem deixa a gente ajudar.

Isso é só um resumo de algumas coisas que temos passado nesses últimos meses, passei minha vida toda com o meu pai, e tenho muitas histórias para contar, mais a partir de hoje resolvi fazer um diário da nossa vida, para que outras pessoas tenham reconhecimento do quanto essa doença é seria e precisa ser tratada, também estou fazendo isso porque muitas pessoas que não convivem com um bipolar dentro de casa, não sabe o que se passa ali dentro, principalmente aos familiares do meu pai, que muitas vezes atrapalham o tratamento dele em vez de ajudar.